A recente explosão mundial dessa modalidade de flerte motivou um grupo de sociólogos suecos da Universidade de Estocolmo a abordá-la como objeto de estudo. Os pesquisadores decidiram analisar um site sueco, o pussokram.com (que se traduz como ’beijo e abraço’). Os resultados foram publicados em maio na revista Social Networks.
Para entender como o pussokram funciona, o sociólogo Petter Holme e seus colegas se juntaram à comunidade com o pseudônimo ’milk monkey’ (’macaco de leite’, em tradução livre) e, sem o conhecimento dos outros membros, eles examinaram como os usuários estabelecem contatos. "Como não queria chamar atenção ou interferir, escolhi um nome bobo e adicionei características entediantes ao meu perfil", disse Holme à CH-Online . "Funcionou: não recebi nenhum contato, mas também não tentei fazer nenhum."
O intuito dos pesquisadores, no entanto, era sobretudo investigar, anonimamente, o banco de dados do site (que chegou a cerca de 30 mil usuários), inclusive a freqüência com que os participantes se comunicavam. Após 17 meses de coleta de dados, o estudo constatou que o tempo médio de duração de um relacionamento no pussokram é de quatro meses.
"Fiquei um pouco surpreso que dure tanto tempo. Isso sugere que os usuários estão satisfeitos com seus contatos", comenta Holme. A maior parte dos usuários são adolescentes e jovens (com média de 21 anos de idade), sendo 70% mulheres. "Não sei qual é a causa para esse percentual, mas esse valor mostra que elas querem que mais homens se juntem à comunidade", brinca o sociólogo.
Os pesquisadores observaram quatro caminhos para obter contato: os membros podem participar de chats, conversar por e-mail, declarar seu amor anonimamente ou num livro aberto de visitas. Quanto às táticas de conquista, Holme verificou que obtêm mais sucesso usuários que respondem mensagens mais rapidamente que outros.
O sociólogo afirma que é difícil determinar se uma pessoa com uma vasta rede de relações no pussokram é, no mundo ’real’, popular, se tem muitos amigos ou exerce mais influência sobre os outros. Como os pesquisadores não tiveram acesso às mensagens trocadas entre os usuários, não foi possível identificar elementos que permitam avaliar as relações amorosas on-line ou caracterizar fenômenos como a traição nesse contexto. Apesar disso, Holme pretende estudar esses pontos no futuro.
A análise também revelou uma intrigante diferença entre o romance na vida real e na internet. Numa situação de amizade e flerte ’normal’, as pessoas tendem a procurar parceiros que se encaixem em seus tipos pré-determinados: parecido com estrelas do cinema, com o popular da turma ou o amigo carinhoso. Já no pussokram, pessoas bem conectadas são menos seletivas. "Isso pode ser porque as pessoas sentem-se mais livres para se relacionar com tipos diferentes de parceiros românticos quando estão anônimas e para agir de maneira diferente da de costume", sugere Holme. "Há menos ressentimento se o contato não for correspondido."
Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
19/05/04
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