"- Quero perguntar-te uma coisa. De que matéria somos feitos? De onde vieram esses átomos que formam o nosso corpo?
Lorens respondeu, a olhar para o céu antigo.
Foram criados juntamente com estas estrelas e este rio que estás a ver. No primeiro segundo do Universo.
Então, depois desse primeiro momento de Criação, nada mais foi acrescentado?
- Nada mais. Tudo se moveu e se move. Tudo se transformou e continua a transformar-se. Mas toda a matéria do Universo é a mesma há um milhão de milhões de anos. Sem que um átomo sequer tenha sido acrescentado.
Brida ficou a olhar o movimento do rio e o movimento das estrelas.
Era fácil perceber o rio correndo sobre a Terra, mas era difícil notar as estrelas a moverem-se no céu. Entretanto, um e outro moviam-se.
- Lorens - disse por fim, depois de um longo período em que os dois ficaram em silêncio vendo um barco a passar. - Deixa-me fazer-te uma pergunta que pode parecer absurda: é fisicamente possível que os átomos que compõem o meu corpo tenham estado no corpo de alguém que viveu antes de mim?
Lorens olhou para ela, espantado.
O que é que estás a pretender saber?
Só isto que te perguntei. E possível?
Podem estar nas plantas, nos insectos, podem ter-se transformado em moléculas de hélio e estar a milhões de quilómetros da Terra.
- Mas é possível que os átomos do corpo de alguém que já morreu possam estar no meu corpo e no corpo de uma outra pessoa?
Ele ficou quieto por algum tempo.
- Sim, é possível - respondeu finalmente.
Uma música distante começou a tocar. Vinha de uma barcaça que atravessava o rio e, mesmo à distância, Brida podia distinguir a silhueta de um marinheiro emoldurada pela janela iluminada. Era uma música que lhe lembrava a adolescência e lhe trazia de volta os bailes na escola, o cheiro do seu quarto, a cor da fita que costumava usar no rabo-de-cavalo. Brida percebeu que Lorens nunca tinha pensado no que ela acabara de lhe perguntar, e que naquele momento talvez estivesse a procurar saber se no seu corpo estariam átomos de guerreiros vikings, de explosões vulcânicas, de animais pré-históricos e misteriosamente desaparecidos.
Mas ela pensava noutra coisa. Tudo o que queria saber era se o homem que a abraçava com tanto carinho tinha sido, um dia, parte dela mesma."
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
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