quarta-feira, 21 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Uma Galinha
(Clarice Lispector)
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
sábado, 10 de julho de 2010
Monja Coen
Entrevista a Adriana Fricelli
Afinal, qual o segredo da felicidade?
Estar presente e inteira no instante, apreciando a vida. Ser capaz de transformar cada obstáculo em um portal. Cultivar a mente feliz, mente de contentamento, mente pura e iluminada. a mente que não sabe, capaz de ser flexível, hábil para aprender e responder conforme as circunstâncias.
Desenvolver a capacidade de compreensão superior - prajna - sabedoria suprema, a fim de compreender e atuar no mundo de forma adequada e eficiente. Segredo da felicidade? Ser, interser. Apreciar a vida, sua própria vida.
A sociedade nos cobra a perfeição: devemos ser pais exemplares, amantes e profissionais bem-sucedidos; no caso dos filhos, ótimos alunos e jovens descolados, etc. Para a grande maioria, ser imperfeito é sinônimo de fracasso?
Não há nada perfeito neste mundo. Apreciar a imperfeição é uma arte. Nada está fixo ou permanente - tudo se desgasta, tudo se transforma. Saúde em doença, sucesso em perda. Ou doença pode ser curada e o fracasso pode se tornar um ganho. Permanece apenas a mente de Nirvana, a mente de tranquilidade advinda da sabedoria das pessoas que praticam e procuram pela verdade e pelo caminho. E esse caminho nos mostra que nada jamais se completa absolutamente. Todo o universo, hoje chamado de multiverso, está em constante estado de formação, manutenção e destruição. Ao observarmos, seja o que for, profundamente,
poderemos perceber imperfeições: mesmo no rosto mais belo, na mente mais ágil, no melhor aluno, no bem sucedido profissional, nos pais exemplares. Mas isso não impede que façamos o nosso melhor em cada instante perene e eterno.
A busca incessante pela perfeição leva à frustração? O que pode provocar no organismo?
Buscar a perfeição é perceber a imperfeição e saber apreciar o que falta, apreciar o que ainda não foi possível assessar e continuar tentando. Não há ponto final. Há a incessante procura, o encontro.
O encontro que é a procura. O que prejudica o organismo é a obsessão, as irritabilidades, a incapacidade de vivenciar a beleza do instante, de estar presente, de ser em plenitude. Cuidado! Não exija nem de si nem dos outros mais do que podem dar no momento. A mente flexível, bondosa, amorosa, inclui e cuida ternamente - de si mesma e dos outros. Quem sabe você possa perceber a perfeição na imperfeição.
Quais recomendações daria a estas pessoas? Como elas podem buscar o equilíbrio por meio de atitudes simples? Como trazer isto para dentro de casa?
O mais simples pode ser o mais difícil de se obter. A mente humana é maravilhosa e estranha. Pode criar o céu ou o inferno - e tudo que há entre ambos.
Sugestões simples: livre-se do que for desnecessário. Mantenha o mínimo de adornos na casa, em você. Uma única flor é mais apreciável do que uma dúzia delas. Escolha bem. Pouco pode ser mais. É importante saber fazer escolhas. Também é importante saber não escolher e apreciar o que é, assim como é. Procure a qualidade essencial das pessoas ou dos objetos e esqueça das hierarquias mundanas. Use, consuma, o que for mais natural para o local do planeta em que estiver vivendo. Simplicidade no vestir, no comer, no falar, no andar, no ser. Não queira impressionar ou se mostrar a ninguém. Porém impressione e mostre ao ser coerente e sensível, suave e profunda, naturalmente livre e responsável. Nem tudo pode ser revelado completamente. O mistério intriga e surpreende. Apague a luz ao sair da sala, feche a torneira quando estiver se ensaboando, ouça os sons que você faz ao andar, comer, sentar, dormir, escovar os dentes, abrir e fechar as portas. Seja quase invisível, caminhe sem deixar traços, pegadas. Separe o lixo, preste atenção que muito lixo pode ser reutilizado - recicle. Recicle seus pensamentos, seus hábitos. Fale com moderação. pense antes de falar. Procure criar harmonia entre as pessoas, invés de querer ganhar as discussões. Não fale à toa. reaprenda a dialogar.Perceba a beleza da luz que entra pela janela, a delicadeza na folha nascendo na
árvore, o som do pássaro mesclado com os carros. Ouça mais, atreva-se mais, viva mais.
O que prega o budismo?
Não fazer o mal. Fazer o bem. Fazer o bem a todos os seres.
Já ouviu falar em wabi sabi? Se sim, qual a sua opinião sobre isso?
Wabi sabi é a capacidade de perceber a beleza das coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas. É a beleza das coisas modestas e simples. É a beleza não convencional. Wabisabi tem sido associado com a cerimônia do chá, com a arte japonesa e com o zen budismo. Alguns consideram que seja a estética Zen. Não é nada muito definível. Algo misterioso e inefável, que talvez nunca possa ser completamente realizado. É percebido, sentido, pressentido. A lua cheia coberta por suaves nuvens é considerada mais bela do que a lua cheia num céu aberto. O galho torto se torna belo e o galho reto pode ser descartado. Wabi sabi é uma maneira de ver o mundo, de viver. Talvez de forma mais simples e natural. Perceber sutilezas e apreciar a simplicidade.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Vamos falar de blogs estrangeiros (I)
(...)
Se eu ainda estivesse andando com peito e bunda, você estaria desconfortável. Você poderia considerar a minha sexualidade explícita um tipo de ameaça. Paquera, ou apenas ser beeem feminina (e sexy pra matar) seria considerada uma forma de ostentação, provocação, e pode enchê-lo com diferentes medidas de misoginia, raiva, medo e ansiedade. Você poderia ser confundido sua sexualidade e a minha, talvez a partir de um acontecimento da infância ou de algo desconhecido para você.
Agora que estou em segurança instalada em minha cadeira e dormente da cintura para baixo, você vai me perceber como assexuada, sem genitália, e não ameaçadora. Você está interessado em me olhar para imagens e vídeos sobre a minha atividade diária, que na maioria das vezes é como ver tinta secar. Sair da cama. Vestir-se. Entrar e sair do sofá. Alguns de vocês querem que eu propositadamente cair da cadeira e rastejar, trabalhando acima de um suor tentando me levantar. Você não quer ver peitos, bunda, ou pelinhos, e se você fizer isso será coberto até ao fim pelo erotismo leve da Victoria's Secret, bem casto. Você deseja ver as minhas pernas, ou "pernas mortas", como lhes chama, então eu tenho que acho que talvez um trauma associado com o Mágico de Oz? Quem sabe. Minha cadeira, em sua mente, tem me transformou em uma sereia presa na terra com uma vulva de Barbie, uma sereia sem sexo com uma barbatana inútil. Novamente, não posso julgar ou compreender verdadeiramente nada disso, mas eu sei que a gente nunca vai fazer sexo: você não iria achá-lo agradável. E nem eu.
(Sarah May Scott, em http://maydayprdx.blogspot.com)
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e, desde hoje, assumi publicamente minha assexualidade.
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