um ruído, imperceptível aos ouvidos dos outros, mas presente. atordoava-o, como um helicóptero a planar dentro da cabeça. e, naquele momento, ele estava desconectado de tudo. a informação que ousasse entrar, fosse a fofoca mais sórdida, era transformada em pedaços, e chegava irreconhecível.
tentava contar, como ensinaram a ele na infancia. um, dois, tr… três, qu… quat… e assim nunca conseguia, sem que uma dor o tomasse de súbito e o escravisasse.
tinha consigo algumas palavras mágicas: nomes de princípios ativos e de outras substâncias, recomendadas por médicos, terapeutas, curandeiros, e pela vizinha de apartamento. as letras tremiam tanto quanto seus olhos, e depois suas mãos e seus dentes.
correu para o computador creme e, depois do choque de luz que os olhos levaram, tentou alguns gestos de mouse e teclado, como se fosse um xamã digital. mas o seu oráculo não estava disposto a traduzir seus desígnios ou pelo menos balbuciar alguma tentativa de cura.
restou, então, concluir a coisa mais lógica possível: vou voar pelo mundo como uma abelha. e assim, fez-se a metamorfose.